terça-feira, 20 de julho de 2010


Eu sou o teu lar. Você é o meu lar, sutil assim.Como deve ser.

domingo, 23 de maio de 2010

VAI VER


Ó menino vai me conta como essa estória começou...
Se Guimarães veio da Rosa ou com o tempo aflorou?
Qual inimigo do Matraga que a morte enxergou?
Mire, veja, vai ispia meu sinhô.
Como o sertão me encantou?Em qual lua cheia?
Qual altura inhazinha, a menina, viajou...
Me diz, me diz
Primeiro do bando, o capanga, que morreu de tanto horror...
Me diz, me diz
A chuva caindo no terreiro... e o barro se alamô?
Mire, mire, as pregunta meu sinhô.
Em qual vereda qu’eu tô? Aonde a estrada vai dar?
Se o leilão da Sariema era puro teatro? Um, dois, três...
Nhô João a-rre-ma-to-u!
E na hora das estrelas só Inhazinha reparou?
E o que a velha ouviu era mesmo um segredo?
Me diz, me diz... o segredo!
Se Catita comeu bala, o valente corredor...
Onde era a novena... qual o santo protetor?
No baião tinha forró quando a festa acabou...
Como tudo começou?
O Sertão se divulgou... por toda parte!
A mãe preta que curava e nunca sentia dor...
Nhô João acerta o galho é um bom atirador...
Todo tempo é tempo, mesmo o tempo que passou?
O Zé todo humilhado cospe grosso, meu sinhô.
Na luta de espada, qual o primeiro que sangrou?
Me diz, me diz o sofredor...
Se a ciranda é pra ser bem rodada, quem foi que desarrumou?
E o cochicho na entrada que todo mundo escutou...
A travessia é o homem ou do homem que atravessou?
Pra onde vai o meu bando, quando tudo acaba?
Se um sapo aparece, foi você que o chamou.
A fitinha envaidece o semi-árido... me diz, me diz, de toda a cor!
Uma velha ajoelhada pedindo ao nosso senhor...
Vai na bala ou na faca, esse filho traidor...
O Paizinho Oxalá será mesmo Jesus Cristo, o Salvador?
Aonde o capiau se informou?
De tanta coisa...

Nataly Rocha
09.05.10

segunda-feira, 10 de maio de 2010


Ah… Se Sesse - Zé da Luz

Se um dia nós se gostasse
Se um dia nós se queresse
Se um dia nós se empareasse
Se juntim nós dois vivesse
Se juntim nós dois morasse
Se juntim nós dois drumisse
Se juntim nós dois morresse
Se pro céu nós assubisse
Mas porém se acontecesse
De São Pedro não abrisse
A porta do céu
E fosse de dizer qualquer tolice.

E se eu me arreliasse
E tu cum eu insistisse
Pra que eu me arresorvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvez que nós dois ficasse
Tarvez que nós dois caisse
E o céu furado arriasse
E as virge toda fugisse

sábado, 8 de maio de 2010

Let Down - Radiohead


Transport, motorways and tramlines,
starting and then stopping,
taking off and landing,
the emptiest of feelings,
disappointed people, clinging on to bottles,
and when it comes it's so, so, disappointing.

Let down and hanging around,
crushed like a bug in the ground.
Let down and hanging around.

Shell smashed, juices flowing
wings twitch, legs are going,
don't get sentimental,
it always ends up drivel.
One day, I'm gonna grow wings,
a chemical reaction,
hysterical and useless
hysterical and

let down and hanging around,
crushed like a bug in the ground.
Let down and hanging around.

Let down,
Let down,
Let down.

You know, you know where you are with,
you know where you are with,
floor collapsing, falling, bouncing back
and one day, I'm gonna grow wings,
a chemical reaction, [You know where you are,]
hysterical and useless [you know where you are,]
hysterical and [you know where you are,]

let down and hanging around,
crushed like a bug in the ground.

Diário de Bordo - Sobral

Estrada, pessoas, lugares, olhares, risos, ritmos, cheiros...as cidades parecem um mundo dentro do mundo. Fiquei à pensar e olhar as paisagens de dentro da van. Nossa?! Para existir algo é preciso que todos nós (Encantragueiros) estejamos juntos, sejamos docemente transportados? Estava me sentindo numa época daquelas, em que as companhias de teatro ganhavam o pão viajando de cidade em cidade, do teatro mambembe.
Chegamos à linda Sobral, nem imaginaria que especialmente na nossa primeira viagem o Sertão, o deserto de dentro do homem me povoasse. Quase o Sertão vira mar. Sertão inundado. Choveu, choveu bastante! Tenho as imagens daquela chuvinha cinza da tarde, filmei na minha câmera da sacada do hotel. Respirei a cidade lenta e profundamente. Conheço Sobral de uma maneira tão silenciosa e inquietante. Andei pelas ruas como um velho – lentamente e como uma criança – curiosa. Vi as praças, as casas, as árvores com centenas de passarinhos dormindo, as luzes.
Penso que devemos ser assim: investigadores do que é vida. E o Teatro é isso. Senti isso na nossa apresentação, o sangue novo circulando, as pessoas que nos davam carinho com um sorriso, um rapaz que não sabia que podia tomar a pinga no início e eu fitei-o virando o meu copinho. – risos.
Estou esquecendo de falar de antes da apresentação: sentei em vários lugares da platéia. Uma concentração que costumo fazer: imaginar como seria a visão daquele lugar. Olhava os técnicos trabalhando, aquele corre-corre e eu lá distanciada e ao mesmo tempo parte do teatro (prédio). Me permiti ser engolida por ele, para depois o engolir. E de fato, esse meu diálogo louco deu certo. Entendi cada centímetro daquele lugar.
À noite, fomos num forró e eu cá com meus botões ouvia o arrasta-pé, de fato. Achava engraçado o sonzinho das sandálias no chão, em uníssono... eram muitos casais.
Deixei um pedaço meu lá por Sobral.

Diário de Bordo - Fortaleza

É inevitável começar o Palco Giratório, sem pensar em todas as dificuldades que nós passamos! Imediatamente, lembro da nossa estreia. Nas costas o peso de ter suportado o parto do menino sertão Encantado, opa Encantrago. Mas é que parece que esse nosso filho era encantado e nunca iria sair. Meses e meses de ensaios, jornada dura de domingo e até noites de sextas alimentando-o, isso sem falar nos dias de manhã que ensaiávamos. No que acreditávamos, meu povo? Não tínhamos nada!!! E tínhamos tudo, afinal. A fé. Assim como o Augusto Matraga tinha a dele, com a sua hora e a sua vez. E pensei: A nossa vez chegou!
Lembro-me bem das moedas contadas com meu amigo João Paulo. Lembro-me bem da "cotinha" para imprimirmos os cartazes para nossa primeira apresentação. Lembro-me dos choros, dos suores, dos estresses, da chuva de baratas atrapalhando o ensaio, lembro ainda das lutas de espadas e das pancadas nos dedos alheios, lembro ainda do desespero dos músculos das coxas na posição de acocorar, dos feriados todos que perdemos junto à família para ficar com esta família alimentando esse traquina.
E ele está aí, creio que vivendo na memória de cada um que o assiste.
Hoje, o figurino é colorido. Acho que uma marca, um rito de passagem. Encantrago com essa trajetória tão maluca e encantadora... faz meu peito tremer. E eu tremia. Essa apresentação tinha um quê de especial, pois meus alunos iriam ver. E diga-se de passagem uma turminha especial e exigente. Eles tem deficiência intelectual, me deu um nervoso: será que eles vão se comportar?Por serem bem sinceros, caso não gostassem iriam reagir e falar...de fato falaram. Falaram coisinhas lindas e puras durante a apresentação. Um deles me disse depois: - Lá é amor.
E de fato o é.

sábado, 10 de abril de 2010

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertam ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.